Antonio Chedid Neto, o Toninho, é natural de Campos Novos/SC e mora em Florianópolis desde 1974. Completou o Ensino Médio no Instituto Estadual de Educação, tem formação em Letras/Literatura pela UFSC e pós-graduação em Preconceito Linguístico pela UDESC. Possui 28 anos no magistério municipal de Florianópolis, sendo nesse período dirigente sindical por 4 anos, diretor da Escola Básica Gentil Mathias da Silva por 2 anos e Diretor de Ensino da Secretaria Municipal por 4 anos. Há 7 anos está a frente da coordenação da EJA - Educação de Jovens e Adultos, no Núcleo EJA Norte I - Ingleses.
O Núcleo da EJA Norte I – Ingleses da Escola Herondina, hoje conta com 180 alunos e 10 professores orientadores de pesquisa. Estudantes de 15 a 83 anos, estão cursando a modalidade de ensino que na Prefeitura de Florianópolis tem como objetivo a pesquisa.
1 – Você já foi Diretor da antiga Escola Gentil Mathias da Silva. Possui uma história de vínculos com a nossa comunidade escolar. Conte-nos um pouco dessa trajetória.
Toninho - Fui Diretor numa situação bem peculiar, meu nome foi indicado pelo coletivo da escola, nossas eleições estavam ameaçadas, foram feitas eleições paralelas nas escolas e meu nome foi referendado pela comunidade, mas a Secretaria não aceitou. Uma interventora foi enviada à escola, porém a comunidade se manifestou e venceu. No ano seguinte a Secretaria chamou as eleições diretas, colocou alguns critérios como projeto de gestão e debate. Assim fomos eleitos oficialmente.
A comunidade dos Ingleses tinha uma tradição muito grande, forte no sentido de união, na questão sindical, fazia discussões que eram acompanhadas pelo coletivo.
Fiquei 2 anos na Gestão. Foi muito interessante, sobretudo pelo vinculo com a comunidade.
2 – O que te motivou a trabalhar com a EJA?
Toninho - Optei pela educação pública por causa da identificação com as classes populares. Na Rede Municipal de Florianópolis nós tivemos um modelo de Gestão Popular e eu participei da Gestão na Secretaria, eu fiquei 4 anos com eles construindo a proposta educacional para a Rede. Quando nós tivemos essa Gestão Democrática, nós pensamos, sobretudo nestes jovens e adultos também. A Secretaria tinha quatro diretrizes, entre elas estava a Educação de Jovens e Adultos - EJA, para nós era muito mais que alfabetização.
Em 2008, eu estava atuando na escola e fui chamado para assumir a EJA. Até então eu não tinha trabalhado na EJA, tinha participado da concepção da proposta, mas não tinha trabalhado efetivamente.
Quando assumi a EJA, ela era entendida como projeto, que tinha a noite, que era alfabetizar aqueles que não tinham concluído os estudos, estavam atrasados. A escola via a EJA como um lugar a parte, onde a noite alguém cedia as salas.
3 – Tornar a EJA uma modalidade de ensino em igualdade de condições com as demais é um grande desafio. Há muitos preconceitos e desafios a serem superados dentro da escola. Você acredita que isso é possível? Como fazer?
Toninho - Ao chegar na EJA meu objetivo era resgatar a valorização da Educação de jovens e adultos, e mostrar que não era um projeto, e sim uma modalidade do Ensino Fundamental.
A educação permanente é um direito do cidadão, não algo que o Estado está oferecendo. É um direito.
Eu tenho jovens de 15 anos e tenho adulto de 83 anos. O de 15 anos, é muitas vezes visto pela sociedade, como aquele que já teve sua chance, são olhados com outros olhos. O adulto é mais aceito pela opinião pública. Dessa visão nasce a proposta diferenciada da EJA de Florianópolis. O currículo dela é chamado pos-facto, é feito a partir da inserção do sujeito na escola.
4 – Como funciona a EJA na Escola Herondina?
Toninho - Trabalhamos com a pesquisa enquanto principio educativo. O estudante chega na escola e vai escolher o que vai estudar. Essa é a diferença de receber uma apostila quando chega na escola. Na EJA, ele chega e faz o conteúdo dele, trabalhamos com problemáticas. O estudante vai ter um prazo, para desenvolver mecanismos de responder a uma problemática escolhida por ele. É feito com os professores um mapa da pesquisa.
Toda pesquisa precisa de um mapa. Os professores abrem um mapa conceitual com os estudantes da problemática de interesse deles. A proposta é que eles tragam algo significativo para eles, que se a escola tradicional não deu conta, talvez estudando algo do interesse dele, e a gente conseguindo fazer a ponte, nós possamos garantir que ele consiga dominar as questões do letramento.
5 - Que resultados são identificados nestes 7 anos coordenando a EJA – Ingleses?
Toninho: Fico impressionado de ver como o jovem e o adulto chegou aqui conosco e como ele está saindo. Ele se transforma num sujeito, num cidadão que começa a perceber seus direitos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário